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Criança é apreendida em salão de Umbanda e relata ritual com cortes

A menina apreendida foi trazida para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em Teresina, onde prestou depoimento e confirmou que passou por um ritual de purificação em que são feitos cortes pelo corpo.

em 05 de maio de 2016

Uma operação conjunta das polícias Civil do Maranhão e Piauí resultou na apreensão de uma criança que estava no mesmo salão de Umbanda, na zona rural da cidade de Timon, onde a menina Francisca Alice Silva Barreto, morta com indícios de intoxicação, teria passado por ritual de cura. A ação ocorreu nesta quinta-feira (5).

Delegado Lucy Keiko, de Teresina (Foto: Catarina Costa/G1)

Delegado Lucy Keiko, de Teresina (Foto: Catarina Costa/G1)

A menina apreendida foi trazida para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em Teresina, onde prestou depoimento e confirmou que passou por um ritual de purificação em que são feitos cortes pelo corpo. “A criança é bem inteligente, mas não está estudando. Em depoimento, ela relatou como era feito todo o processo (do ritual). A menina contou que teve os cabelos cortados e marcas em forma de cruz foram feitas pelo pessoal do salão de umbanda durante um ritual religioso. Ela foi levada pelos pais para o local”, contou o conselheiro tutelar de Teresina Djan Moreira.

Após prestar depoimento na DPCA, a menina foi entregue aos cuidados do Conselho Tutelar de Timon, que está acompanhando a mãe da criança apreendida e vai continuar a investigação. A mãe não quis falar com a reportagem do G1. Uma filha da proprietária do salão de Umbanda, bem como seu advogado, também estavam na delegacia, mas também não quiseram falar com a imprensa.

Francisca Alice morreu no dia 28 de abril após 15 dias internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT), com suspeita de intoxicação e tortura que teria sido praticada durante uma cerimônia religiosa. Um dia antes de vir a óbito, profissionais do HUT suspeitaram do abuso e pediram uma perícia para Serviço de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência Sexual (Samvis). O resultado da perícia confirmou o abuso, bem como que a criança estava infectada com o vírus HPV (human papilomavirus).

Promotora Vera Lúcia (Foto: Catarina Costa/G1 PI)

Promotora Vera Lúcia (Foto: Catarina Costa/G1 PI)

A promotora de justiça da Vara da Infância e Juventude de Teresina, Vera Lúcia Santos, que acompanha o caso também confirmou o estupro. Ela disse que todas as crianças que frequentaram o ritual de cura vão passar por exames para saber se sofreram tortura ou foram vítimas de abuso sexual.

Conselheira Socorro Arrais revela detalhes sobre conversas com os pais da menina (Foto: Reprodução/TV Clube)

Conselheira Socorro Arraes (Foto: Reprodução/ TV Clube)

Conselho verifica se mais crianças foram abusadas
Três meninos que também teriam sido submetidos a ritual de purificação em um salão de umbanda, localizado a 20 km da cidade de Timon, no Maranhão, foram levados ao Instituto Médico Legal de Teresina (IML) e passaram por exames de corpo de delito na terça-feira (3). Segundo a conselheira tutelar Socorro Arraes, as suspeitas de abuso sexual e tortura não foram confirmadas pelos procedimentos.

“Foram feitos os exames e não ficou comprovado nem abuso sexual e nem agressão física. Essas crianças também estiveram no salão de umbanda e essa análise é justamente para saber se eles também sofreram lesões como a menina de 10 anos que morreu. Agora iremos encaminhar os resultados para o Ministério Público e para a Polícia Civil. Mais crianças continuam sendo investigadas”, contou.

Investigação
O delegado Luccy Keiko, gerente de policiamento metropolitano de Teresina, revelou ao G1 nessa quarta-feira (4) que a conclusão dos laudos sobre a morte da menina de 10 anos, suspeita de intoxicação e tortura em ritual, deve sair em 15 dias. Segundo ele, a perícia feita no corpo da criança deve apontar também quando ocorrreu o abuso sexual na vítima.

“A delegada Tatiana Trigueiro, titular do caso, vem tentando ao máximo agilizar o resultado dos exames feitos no corpo da menina e no líquido ingerido por ela. A informação repassada pelo IML [Instituto Médico Legal] é que os laudos devem ficar prontos até o dia 15 deste mês. Vamos aguardar, porque queremos apresentar um laudo final sem questionamento”, contou o delegado.

HUT - Hospital de Urgência de Teresina (Foto: Fernando Brito/G1)

Menina passou 15 dias internada no HUT (Foto: Fernando Brito/G1)

Menina passou 15 dias internada no HUT (Foto: Fernando Brito/G1)

Luccy Keiko explicou que com os laudos prontos, a polícia terá a definição da causa da morte da menina e há algumas respostas que faltam sobre o crime de abuso. Segundo o delegado, a partir dos resultados se pode determinar quem teve contato com a criança ou até mesmo identificar o suspeito do estupro de vulnerável.

Sobre o casos de torturas em outras quatro crianças, o delegado informou que as investigações vão acontecer junto com a Polícia Civil de Timon, no Maranhão, local onde acontecia os rituais. Caberá ao estado vizinho apurar a responsabilidade do salão de umbanda.

Vara da Infâcia
O Juizado da 1° Vara da Infância e Juventude de Teresina recebeu do Conselho Tutelar a denúncia de que mais de 20 crianças teriam sido submetidas a torturas nesses rituais. Com a informação, a juíza Maria Luiza de Moura Melo, disse que autorizou os conselheiros a recolher qualquer criança desacompanhada que apareça com as mesmas características dessa vítima (cabelo raspado e cicatrizes em forma de cruz).

Filhas de dona de salão negam tortura
Em entrevista ao G1 na semana passada, duas filhas da proprietária do salão de umbanda, onde os pais levavam a menina, negaram que as pessoas que frequentam o local sejam torturadas. Sem quererem se identificar, as mulheres afirmaram que os cortes nos praticantes de umbanda são superficiais e feitos com o consentimento dos responsáveis.

Uma das filhas da proprietária do salão de umbanda afirmou que ela e seus filhos passaram pelos procedimentos várias vezes e nunca sentiram nada e negou o uso de bebidas nos rituais. De acordo com a mulher, o ritual acontece da seguinte forma: a pessoa doente fica recolhida no quarto durante sete dias, recebendo apenas orações.

Sem deixar fazer o registro de foto ou vídeo, as mulheres mostraram algumas marcas pelo corpo e apresentaram os filhos com a cabeça raspada, informando que eles passaram pelos mesmos rituais.

Fonte: G1/Piauí

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